Um povoado com 93 mil habitantes, onde não existe asfalto, energia elétrica, água encanada, padaria ou supermercado. Um lugar onde é comum a cena de estudantes sendo alfabetizados à sombra da árvore e pessoas adoentadas sendo transportadas de carriola por quilômetros. Esse é o retrato de Marara, um distrito da Província de Tete, no País de Moçambique, no continente africano.
O relato foi feito nesta segunda-feira (05/02) pelo padre apucaranense Devanil Ferreira, durante visita ao prefeito em exercício de Apucarana, Sebastião Ferreira Martins Junior (Junior da Femac). Devanil pertence à Congregação dos Padres Oblatos de São José, é amigo de infância de Junior da Femac e está desde 2014 em Moçambique.
“Se em Apucarana as crianças da rede municipal de ensino têm acesso a frutas e o cardápio da merenda escolar do mês é divulgado antecipadamente, em Marara não existe geladeira e parte dos alunos ainda estuda debaixo de árvores. Esse trabalho do Devanil é uma bênção para todos nós, dá sentido a tudo o que fazemos para garantir uma vida melhor para as pessoas e nos enche de energia”, frisa o prefeito em exercício de Apucarana, Junior da Femac.
“Se muitos falam que o Brasil está 50 anos atrasado, a região onde atuo está 400, 500 anos atrasado”, compara o religioso, que concilia a função de pároco com a de diretor de uma escola com mil alunos. Devanil também responde pela coordenação de religiosos, cuja jurisdição corresponde a um estado inteiro. “Além disso, já cheguei a fazer 1.500 pães por dia dentro de uma garagem”, completa Devanil.
O cenário de extrema pobreza – onde praticamente inexistem veículos automotores, geladeiras, internet e outras “modernidades” – contrasta com tudo o que estamos acostumados. “Quando fizeram um teste para canalizar a água colocando uma torneira, as pessoas não sabiam o que iria sair e ficaram maravilhadas quando viram a água jorrando”, descreve Devanil, afirmando que lentamente algumas coisas estão sendo disponibilizadas, como energia elétrica e torres para Internet. “Mesmo assim, o acesso a isso ainda é muito limitado”, pondera.
Os problemas de saneamento, aliada à precariedade do sistema de saúde e à dificuldade no acesso de alimentos, diminuem a longevidade da população. “O país de Moçambique tem cerca de 23 milhões de habitantes, sendo que 50% da população tem menos de 25 anos de idade”, observa o religioso.
Em Marara, os missionários trabalham na primeira evangelização. “Isso significa que eles não conheciam nenhuma religião”, afirma o padre, que já na ordenação alimentava o desejo de estar em missão na África. “Eu já tinha esse pensamento, tanto que na minha ordenação, durante a ladainha, deitei sobre uma bandeira da África”, relembra.
CONTRASTES – Se no Brasil vive-se a democracia e em Apucarana o prefeito Beto Preto foi reeleito com uma das maiores votações do Brasil, Moçambique viveu 40 anos de guerra interna e os partidos ainda hoje mantém milícias armadas.
Se Apucarana tem uma frota estimada em cerca de 80 mil veículos, Marara se restringe ao carro do padre Devanil, de outra irmã religiosa e de mais alguns poucos veículos governamentais.
Se a região de Apucarana é conhecida pelo potencial agrícola, no continente africano há uma inversão na lógica de produção. “No Brasil, os animais são mantidos em áreas cercadas. Lá, eles ficam soltos e o plantio é que fica em área cercada”, compara Devanil.
A economia de Moçambique gira em torno do carvão e das pedras preciosas, a língua oficial é o português (lusitano), mas existem outras 23 línguas dentro do País. O salário mínimo equivale a R$ 285 e a moeda local é 20 vezes mais desvalorizada que o real.
 

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