Somente três municípios do Paraná foram selecionados pelo Ministério da Saúde para desenvolver um programa de enfrentamento das drogas, especialmente o crack. Apucarana, Laranjeiras do Sul e Prudentópolis tiveram seus projetos aprovados, visando a formação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Apucarana receberá R$ 296 mil, destinados à capacitação de profissionais de diversos setores e que atuam no atendimento ao dependente químico. Após o treinamento, a Autarquia Municipal de Saúde (AMS) vai aderir ao programa “Crack, é possível vencer”, também do Governo Federal.
De acordo com o prefeito de Apucarana, Beto Preto, a AMS encaminhou o projeto ao Ministério da Saúde em novembro de 2013. “Apucarana participou da chamada para a seleção de projetos de percursos formativos da RAPS, que trabalha com cinco linhas de serviço. Tivemos o projeto aprovado na linha de demandas associadas ao consumo de álcool e outras drogas, entre elas o crack, que é o grande desafio”, explica.
Conforme Beto Preto, Apucarana já conta com uma rede de atendimento, mas que ainda não está integrada. “O objetivo é fazer a capacitação de todos os profissionais envolvidos, abrangendo áreas como saúde, educação, assistência social, esporte, juventude e segurança pública, entre outras. O programa vai atuar no tratamento e na prevenção, consolidando o diálogo e intersetorialidade entre os serviços que compõe esta rede”, frisa.
O prefeito afirma que a conquista é mais um avanço no enfrentamento às drogas e na promoção da saúde mental. “Nesta gestão implantamos o Departamento de Saúde Mental, que não existia e funcionava agregado a outros setores da Autarquia Municipal de Saúde. Em 2013, foi criada também a Associação da Saúde Mental e a Prefeitura viabilizou um espaço, no Platô da Praça Rui Barbosa, onde são desenvolvidas as atividades e as reuniões”, cita.
DESAFIO – O crack é o grande desafio das autoridades no enfrentamento das drogas. O enfermeiro Wagner Vitorino Gionco, coordenador municipal de Saúde Mental, afirma que até o final de 2014 as projeções indicam que haverá 10 milhões de usuários de crack no Brasil. “Isso representa metade dos diabéticos e um quarto dos hipertensos existentes no País”, compara.
Em Apucarana, a realidade não é diferente. “Os casos vêm crescendo de uma forma alarmante. Em torno de 80% dos atendimentos a dependentes químicos estão relacionados com o crack”, revela Gionco, afirmando que as demais situações envolvem o álcool, maconha, cocaína e heroína.
O crack é uma droga considerada barata, facilmente encontrada e que leva rapidamente à dependência. “Utilizando uma vez a pessoa já pode ser dependente e duas vezes muito provavelmente será um dependente”, alerta o enfermeiro.
REDE – Nesta quinta-feira (13/02), foi realizada a primeira reunião com representantes dos órgãos que fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), visando a indicação dos profissionais de cada área que serão capacitados. Conforme Gionco, a rede engloba a Autarquia Municipal de Saúde, Autarquia Municipal de Educação, Núcleo Regional de Educação, Secretaria Municipal de Assistência Social, Conselho Tutelar, Guarda Municipal, Conselho Comunitário de Segurança, Secretaria da Juventude, Associação de Saúde Mental e Hospital Providência.
Na área de saúde, integram a rede diversos órgãos de apoio, como a UPA, SAMU, Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS I, Infantil e Álcool e Drogas). “O paciente dependente químico precisa ser visto num todo. Por isso, a importância de uma rede engrenada e que fale a mesma língua. Existe um caminho que a pessoa percorre e que precisa ser visto. Em algum momento o adolescente está na escola, noutro praticando esportes e, infelizmente, pode acontecer de estar no Conselho Tutelar ou aos cuidados do SAMU por causa de uma overdose”, exemplifica.
CAPACITAÇÃO – Os órgãos que compõem a Rede de Atenção Psicossocial indicarão agora 20 profissionais, que participarão de um treinamento de 160 horas. “A capacitação será feita fora de Apucarana, em local definido pelo Ministério da Saúde. A cada mês serão encaminhadas duas pessoas, que ficarão 30 dias neste centro de treinamento. Ao final de 10 meses, todos estarão capacitados e então o Ministério da Saúde virá a Apucarana para finalizar a capacitação com todos os profissionais”, esclarece o coordenador municipal de saúde mental.
Ainda com os recursos, repassados através do Fundo Municipal de Saúde, será contratado um supervisor clínico institucional. “Será um profissional da área de psicologia e que, segundo normas do programa, deverá ser de uma universidade estadual do Paraná. Esse profissional estará em Apucarana a cada 15 dias supervisionando os trabalhos”, completa.
TRATAMENTO – Atualmente, a rede de serviços oferece basicamente quatro possibilidades de tratamento a dependentes químicos. Um deles é o ambulatorial, feito no CAPS Álcool e Drogas e no CAPS Infantil, e que se restringe a consultas. Outra possibilidade é a assistência, também no CAPS, onde o usuário permanece o dia todo e à noite volta para casa. Há ainda a comunidade terapêutica, que funciona em área rural de Londrina, onde os pacientes desenvolvem diversas atividades. “Caso haja necessidade é feito o internamento psiquiátrico, regulado pela central de leitos do Estado, podendo ser no Hospital Regional de Jandaia, na Casa de Saúde de Rolândia e no Centro Psiquiátrico de Londrina, entre outros”, observa Gionco.