Nos últimos três anos, 5.308 crianças nasceram em Apucarana e 60 morreram, apresentando uma taxa de mortalidade infantil de 11,30 para cada mil nascidos vivos. No mesmo período, foi registrada apenas uma morte materna, cuja causa não foi divulgada. Os números constam do banco de dados da Secretaria de Estado da Saúde e foram divulgados hoje (06/05) pela Autarquia Municipal de Saúde e estão abaixo das taxas nacionais, de acordo com o Instituto Nacional de Geografia e Estatística(IBGE).
Ao analisar os números apresentados, o prefeito Beto Preto disse que “este é o resultado da atenção que o Município de Apucarana dispensa às grávidas, assistidas por profissionais capacitados desde o pré-natal até o parto, complementada pelo acompanhamento do recém-nascido no Centro Infantil”. Ele acrescenta que dependendo da necessidade da criança, a prefeitura oferece complemento alimentar, conforme determinação médica. “Temos um compromisso com a saúde da população e no caso dos recém-nascidos há uma atenção toda especial, para conforto e segurança dos pais e dos familiares”, afirma o prefeito.
O médico obstetra Sérgio Luiz Rigon, coordenador da Escola da Gestante, explica que o aprimoramento de exames complementares, bem como a descentralização do pré-natal de baixo risco em seis unidades de saúde, contribuíram para este resultado. Ele ressalta também que há uma preocupação das gestantes no acompanhamento pré-natal. “Aliado a isto temos o acompanhamento multiprofissional, com atenção às questões alimentares, psicológicas, fisioterápicas, oferecendo mais segurança à gestante”, afirma o médico.
A enfermeira Maria Aparecida Moreira Neves, que junto com Rigon coordena a Escola da Gestante, observa que há o pessoal lotado nas unidades de saúde recebe treinamento constante para prestar um atendimento seguro às futuras mamães. Ela lembra que todo este trabalho contribui para gestações sem riscos, inclusive, em alguns casos, o médico que realiza o pré-natal é quem faz o parto.
Já o diretor presidente da AMS, Roberto Kaneta, concorda que o trabalho desenvolvido na Escola da Gestante, com a gravidez de alto risco, e de baixo risco nas UBS Residencial Sumatra, Jardim das Flores, Jardim Colonial, Jardim América, Dom Romeu Alberti, Jardim Ponta Grossa e Parigot de Souza, tem como reflexo o baixo índice de mortalidade infantil. “Um cuidado especial na gestação contribui para o nascimento de bebês saudáveis”, completa Kaneta.
Com respeito aos números, Kaneta faz um comparativo com os índices nacionais de mortalidade infantil no mesmo período. O dirigente destaca que em 2013, a taxa foi de 9,95 em Apucarana; e 15,02 no Brasil. Em 2014, taxa de 11,10 em Apucarana e 14,40 no nacional. Em 2015, enquanto a taxa nacional chegou a 13,82, em Apucarana foi registrada 12,80. “Este é o resultado de um trabalho responsável de toda uma equipe de profissionais dedicados, que cumpre as diretrizes estabelecidas pelo prefeito Beto Preto, cuja atenção é voltada aos interesses do cidadão”, completa Kaneta.
De acordo com o diretor presidente, há casos onde é necessário a suplementação alimentar, pois a criança nasce abaixo do peso. Nesta situação, explica ele, “muitos produtos necessitam de uma formulação específica, sendo necessário adquirir de fornecedores previamente cadastrados pela Autarquia”.
PROBLEMA SOCIAL
A gravidez inesperada e na adolescência é atualmente um dos mais significantes problemas sociais em todo o mundo e uma das causas da mortalidade infantil. A afirmação é do médico pediatra Luiz Carlos Busnardo, que presta atendimento no Centro Infantil “Sonho de Criança”, da Autarquia Municipal de Saúde, ao analisar o índice de mortalidade registrado em Apucarana. Para ele, a imaturidade da gestante adolescente e o consequente aumento da morbidade (risco para complicações de agravo à saúde) gera um pré-natal de risco e como consequência o óbito neonatal.
Busnardo, que atende também no Hospital da Providência Materno Infantil, deixa bastante claro que “a sinistralidade é um fenômeno recorrente no período fértil da mulher despreparada para a gestação, resultando na gravidez inesperada, principalmente na adolescência e entre usuárias de drogas – lícitas e ilícitas”. Ele exemplifica ao relatar o caso de uma jovem, que ficou grávida durante relacionamento sexual em uma praça da cidade, ao deixar uma escola para um encontro. Naturalmente, a jovem contou ao médico que “rolou um clima e aconteceu (a gravidez)”. “Não houve nenhum cuidado preventivo entre os dois jovens para a relação sexual”, afirma o pediatra.
E é no consultório, acompanhando os recém-nascidos, que Busnardo observa as situações mais gritantes. “Esta jovem não está preparada para ser mãe e transfere a responsabilidade de cuidar da criança aos avôs. Ao mesmo tempo, a jovem mãe precisa trabalhar para sustentar o filho e, como consequência, deixa os estudos, prejudicando a formação acadêmica e de vida, afetando toda a família”, completa o médico. Assim, complementa, o rendimento intelectual fica comprometido.
O pediatra acrescenta que a Autarquia Municipal de Saúde oferece um trabalho multiprofissional pré e pós-parto, mas o resultado depende da pessoa assistida. “É disponibilizado na rede municipal um atendimento psicológico, nutricional, pediátrico, de enfermagem, para permitir a esta jovem mãe cuidar com segurança do filho. Mas é preciso uma contrapartida, que nem sempre acontece”, diz médico.
Para ele, a sociedade não pode esperar que o serviço de saúde dê conta desta situação. “É preciso que a sociedade organizada esteja mobilizada para buscar soluções, pois o quadro atual mostra um futuro negro para as próximas gerações, com alto risco de desvio de comportamento quando da puberdade, comprometendo a estabilidade social”, alerta o pediatra.
A gravidez precoce e suas complicações são a principal causa de mortalidade entre adolescentes do sexo feminino de 15 a 19 anos, sendo a terceira causa de óbitos entre as mulheres no Brasil, perdendo apenas para homicídios e acidentes de transportes. No Brasil, dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) mostram que 25% das meninas entre 15 e 17 anos que deixam a escola o fazem por causa da gravidez, que assim vem se tornando a maior causa de evasão escolar.